Jardim Botânico do Recife integra expedição que identificou espécie desaparecida há 185 anos
A iniciativa recebeu o apoio da ONG Re:wild, fundada pelo astro de Hollywood Leonardo DiCaprio
Membros da equipe do Jardim Botânico do Recife (JBR) e da Unidade de Conservação da Natureza da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife (SMAS), fizeram parte da expedição de cientistas que identificaram a ocorrência de uma árvore desaparecida há 185 anos. Mais conhecida como azevinho pernambucano - Pernambuco holly em inglês -, essa espécie de árvore rara foi encontrada na cidade de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, ao Norte, em trechos ainda bem conservados das matas da Usina São José, por uma expedição que passou seis dias trabalhando na região na expectativa de avistá-la. Esse fato mostra a importância da conservação da Mata Atlântica para a salvaguarda da nossa fauna e flora nativas. A iniciativa foi apoiada pela ONG (Organização Não Governamental) Re:wild, fundada pelo astro de Hollywood Leonardo DiCaprio.
A árvore, que pode atingir entre 8 e 12 metros de altura, está entre as 25 espécies perdidas mais procuradas pela Busca por Espécies Perdidas e é o nono a ser redescoberto desde o lançamento do projeto em 2017
O biólogo da SMAS, Marcelo Sobral explica que a espécie encontrada é endêmica. “É importante citar que o azevinho pernambucano é endêmico da Mata Atlântica Nordestina e exclusivo, pois não ocorre em nenhum outro lugar no mundo”, destaca.
O azevinho pernambucano foi coletado pela primeira vez para a ciência ocidental pelo naturalista George Gardner em 1838 em uma expedição, e mais tarde foi oficialmente descrito por Siegfried Reissek em 1861. Até a recente redescoberta, a coleção da espécie por Gardner era o único avistamento confirmado conhecido.
A equipe, liderada por Gustavo Martinelli, ecologista da Navia Biodiversity Ltd, foi composta por professores da Universidade Federal Rural de Pernambuco, analistas ambientais do JBR, biólogo, parabotânico da SMAS e cientistas da ONG Re:wild, encontrou as plantas observando o rastro das pequenas flores brancas características da espécie.
A atual gestora do Jardim Botânico do Recife, Ladivânia Nascimento, afirma que a expedição foi uma verdadeira caça ao tesouro em busca de um indivíduo que se aproximasse morfologicamente dos últimos registros feitos. “Nós conseguimos encontrar o macho e a fêmea da espécie, mas outros estudos ainda precisam ser elaborados em termos de ecologia da espécie, para que possamos entender melhor quais as necessidades dela para poder estar naquele ambiente”.
Segundo a gestora, os próximos passos a serem seguidos envolvem mais uma expedição nas matas da Usina São José para a coleta de frutos da "Ilex sapiiformis". Assim que coletado, o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE) deve iniciar a etapa de germinação para tentativas de reprodução do material, além de estudos ecológicos que visam a reprodução e reintrodução da espécie em outras localidades com condições similares.
Vinculado à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SMAS), o Jardim Botânico abre de terça a domingo, das 9h às 15h, com entrada gratuita, sendo os finais de semana os dias com maior índice de visitação. Além de área pública de lazer e contemplação, o espaço abriga um corpo técnico que realiza pesquisas voltadas à botânica, restauração florestal e conservação da biodiversidade da Mata Atlântica.
Foto: Azevinho de Pernambuco ( Ilex sapiiformis ) - Foto de Fred Jordão